Wednesday, February 24, 2010

Isaías Junior a caminho de Portugal

Isaías foi um dos jogadores que mais marcou os adeptos benfiquistas no início dos anos 90. Ao lado de compatriotas como Ricardo Gomes, Mozer ou Valdo, o “pontapé canhão” contratado ao Boavista depressa conquistou o seu espaço no emblema da águia. Retirado do futebol, hoje com 43 anos, Isaías dedica-se ao que um dia sonhou quando começou a jogar futebol.


Em Cabo Frio – terra natal – o antigo jogador do Benfica ensina actualmente 150 jovens a aprender aquilo que mais gostava de fazer. Criou a Escolinha 1.º de Dezembro, e ainda lhe junta o prazer de ali poder ensinar os dois filhos. A caminho dos 16 anos, Isaías Júnior cresce como jogador, muito provavelmente a caminho de Portugal…


Quando jogava no Benfica, já tinha em mente a criação de uma escola de futebol? Quando surgiu esta ideia?
- Desde sempre. Desde o início da minha carreira, ainda aqui no Brasil, que tinha a vontade de criar uma escolinha. Quando fui para Portugal, para representar o Rio Ave, já levava essa ideia comigo.
Sente-se realizado a ensinar os mais novos a fazer aquilo que mais gostava de fazer?
- Claro que sim. Tenho muito prazer em ensinar estes 150 jovens a crescer como homens e futebolistas. Sinto-me gratificado porque sabia que mais tarde ou mais cedo havia de estar a trabalhar com crianças.

O Brasil é uma fonte quase inesgotável de futuros talentos no futebol. Podemos esperar algum craque a sair da Escolinha 1.º de Dezembro?

- Creio que sim (risos). A minha intenção é a de formar estas crianças como pessoas e atletas, de forma a poderem um dia vir a ter uma carreira de jogador profissional. Na sua maioria são jovens entre os 10 e os 18 anos, é preciso dar tempo. Actualmente há dois jovens que estão em Portugal e que passaram por esta escola. O Alessandro que é atacante e joga no Estoril-Praia, e o Rodrigo, defesa central que está no Vizela.

Os seus filhos estão a crescer e a aprender na sua escola de futebol. Acredita que ambos podem vingar na modalidade e vir a ter uma carreira como a do pai?
- Gostava que sim. Contudo, eles é que vão decidir o futuro das suas vidas. Mas uma coisa é certa, tenho muito orgulho em poder estar a ensinar-lhes a jogar futebol.

O Lucas tem 10 anos e o Isaías Júnior tem 15. Vê nalgum deles características semelhantes às que o Isaías mostrou quando jogava em Portugal?
- Ainda são novos, é difícil dizer. Acho que o Lucas, apesar da idade, é aquele que poderá vir a parecer-se mais comigo. Gosta de jogar na frente e já mostra um remate forte. A fazer lembrar o “pontapé-canhão” como era conhecido em Portugal! (risos). O Isaías Júnior joga a trinco, é uma posição diferente, mas também chuta bem!

O seu filho mais velho, o Isaías Júnior, gostava que ele viesse para Portugal e atingisse o reconhecimento alcançado pelo pai?
- Gostava e ele próprio também quer ir. O Isaías Júnior nasceu em Portugal, na altura daquele famoso jogo contra o Arsenal. Cresceu aí e sabe que o pai foi muito feliz em Portugal e no Benfica. Logo, é normal que também pense em fazer carreira no país.
E acha que já está em condições de poder dar o salto? Onde gostava de o ver o jogar… no Benfica?
- Por enquanto Isaías Júnior está ainda um pouco “verde”. Precisa de amadurecer um pouco mais como jogador. Apesar de ele gostar do Benfica devido ao pai lá ter jogado, não significa que pense apenas em vê-lo no meu antigo clube.

Dito dessa forma, não se importava de o ver jogar no FC Porto ou no Sporting…
- O futuro é dele, ele é que decide. Eu só desejo o melhor para o Isaías Júnior e não quero contrariá-lo. E porque não ir para a Academia do Sporting, por exemplo? Todos reconhecem, é uma grande escola. No meu tempo, lembro-me do filho do meu antigo colega no Benfica, o Veloso, brincar connosco no balneário, e hoje está a jogar no Sporting… O futebol é assim mesmo. Costumo dizer ao meu filho: Carregas o meu nome no teu, se conseguires metade do que eu consegui no futebol já ficarei feliz contigo! (risos).

Já estabeleceu contactos de forma a que Isaías Júnior se mude para Portugal? Quando poderemos esperar isso?
- É um facto que ele pode vir a jogar em Portugal. Neste momento, a minha ideia é ir passar o fim-de-ano ao país e reencontrar alguns amigos. Se o fizer, já irei com tudo direccionado para falar com as pessoas certas e tratar do futuro dele.


Isaías Júnior completa 16 anos no dia 17 de Dezembro. É óbvio que se trata de um jogador ainda jovem para a curto prazo o vermos num relvado e recordar o nome do pai. À semelhança do que se passa lá fora – com os grandes clubes europeus a apostarem em jogadores cada vez mais jovens – também em Portugal há quem aposte na mesma política. Como são os exemplos do australiano Kaz Patafta, no Benfica, ou do brasileiro Yannick Pupo, no Sporting.

O jovem que se segue poderá então chamar-se Isaías. Apesar do apelido Júnior, quem sabe se não poderemos estar perto de ver nos relvados portugueses, 15 anos depois, um dos nomes mais marcantes do início da década de 90.



nome: Isaías
para os amigos: “pontapé-canhão”

Foi há mais de uma década que Isaías espalhou o seu futebol com a camisola encarnada. E desde então, apesar do plantel benfiquista contar quase sempre com um ou mais jogadores brasileiros, poucos conquistaram o coração dos adeptos como Isaías o conquistou. Uma explicação que não se deve a nenhum segredo em especial, mas sim fruto do empenho no dia-a-dia.

“No meu tempo, ainda os treinos eram ao lado do antigo Estádio da Luz, eu ficava lá depois da sessão acabar. Ficava lá a rematar, de longe e várias vezes, sempre a tentar até a bola sair como eu queria “
, recorda o antigo jogador benfiquista.

“Havia sempre muitos simpatizantes do clube que estavam ali a assistir aos treinos, e que depois ficavam lá quando o treino acabava. Ficavam ali a ver-me tentar os remates de longe, ao mesmo tempo que eu os ouvia a incentivar”
, acrescenta Isaías.

“Havia um carinho especial. A história do pontapé canhão também vem daí. Gostava de treinar os remates, e por isso é que nos jogos, de vez em quando, conseguia marcar aqueles golos”, relembra.

Entre vários, dois momentos da carreira de Isaías ficarão para sempre guardados na lembrança da nação benfiquista:

Um deles a memorável noite de Highbury Park, Londres, silenciando o Arsenal com uma magnífica exibição e dois golos. Decorria a época 1991/92 e o Benfica eliminava o campeão inglês da Taça dos Campeões Europeus.
Autor de dois golos, Isaías ficará também ligado à história do 6-3, resultado com que o Benfica surpreendeu Alvalade, em Maio de 1994.

 out.2006

No comments: