Wednesday, March 31, 2010

Ao tempo que cá ando, tenho p'ra comigo que não há neste Mundo ninguém igual a ninguém.  Mas com a certeza porém, de que há Uns - de facto - que são mais diferentes que outros.
(são essas pessoas que vale a pena conhecer)


foto: serviço militar do avô Carlos  (covilhã, 1938)

Wednesday, February 24, 2010


Em Abril de 2009, uma saudável rivalidade entre leões e lampiões passou do escritório para dentro de um campo.   Golos houve muitos, o resultado não importa.   O que aqui se relata é o desempenho de cada um e o amor que cada um teve pela sua camisola.


Derby MEU-PT de 21-04-2009


 Crónica dos craques da Mitsu


Paulo Florêncio
O dia começara mal para o guardião sportinguista. Aquela má disposição matinal – obrigando-o a uma ida ao hospital - deixara os colegas de equipa a fazer contas à vida.
Mas retemperado - e sublinhe-se, impecavelmente equipado! – viria à noite a mostrar em campo de que massa é feito um leão. Destemido, Florêncio juntou a um punhado de boas defesas outras belas incursões quando se mostrou lá na frente.
Numa frase : Depois deste jogo nunca mais o Prior Velho irá esquecer o seu nome.

Miguel Margarido
Uma vez dentro das quatro linhas, quem percebe da engenharia do futebol é como dirigir um departamento. Por isso Margarido jogou e fez jogar - sinal evidente de que era uma das pedras importantes no xadrez verde-e-branco.
Dizem que em campo há jogadores que não é preciso se dar muito por eles para os companheiros saberem que quando é necessário, é daqueles que está lá.
Margarido mostrou que o futebol não se joga de régua e esquadro, mas antes com empenho e dedicação.

João Oliveira
A maneira como trata a bola não engana: foi jogador em tempos áureos, sinal claro de que aos 12, 13 anos… era um dos craques lá da rua..!
Entretanto, o afastamento prematuro dos relvados, faz tempo que lhe tirou a mobilidade e a resistência de outrora. E quando assim é… dizem que é então que se destaca a vontade.
Porque foi essa - a vontade de marcar presença e de ajudar os companheiros – aquilo que ficou registado, o que melhor espelha a exibição de João Oliveira.


Nuno Ribeiro
A Figura, pois claro. Foi a pedra de toque que sustentou o melhor Sporting. O principal dinamizador do ataque dos leões. Desequilibrador, velocidade arrepiante e técnica apuradíssima fizeram toda a diferença. Placa giratória do futebol leonino, ocupou os espaços com elegância. 
Mais do que isso: um batalhador incansável, com acerto em diferentes zonas do campo. Foi o primeiro a obrigar o guarda-redes encarnado a esticar-se e ainda encontrou espaço para brilhar com toques de classe.
Aplausos, se faz favor. Quem o tem, está sempre perto de ganhar.
(comentário escrito por José Carlos)

Tiago Fialho
Com uma frescura física de assinalar, deambulou um pouco por todo o terreno. Tal como um leão que na selva circula por onde quer, Fialho fez o mesmo, porque em campo é daqueles que joga num sítio qualquer.
Como jogador é fácil reparar que o sportinguismo lhe corre no sangue desde pequenino. E provou uma coisa que muito agrada a quem gosta de futebol : que mais importante do que ser sobredotado tecnicamente, é suar e honrar a camisola.
O belo golo apontado já ao cair do pano foi o prémio pela entrega durante o jogo, foi a cereja pela boa exibição.



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José Carlos
Após um longo afastamento dos ringues nacionais, regressou em grande estilo aos relvados. Desta vez com luvas – ágil entre os postes para uma sólida exibição.
O balanceamento ofensivo da equipa encarnada só pôde ser aquele, porque os jogadores sabiam que lá atrás, a casa estava bem guardada. Destaque para um punhado de intervenções de grande nível, com JC por várias vezes a negar o golo ao adversário.
Dizem as crónicas que em tempos era daqueles que fazia a diferença a jogar lá na frente… Pode ser que para a próxima tire as luvas.., que recorde e experimente..!
Porque graves lesões também os grandes jogadores mundiais passam por elas.  E quando regressam, não deixam de ser grandes.

Miguel Reis
Se a bola em vez daquela fosse maior, se em vez de balizas fossem cestos, os pés não entravam e só valia com a mão.., seria sem dúvida o melhor (o MVP) daquele jogo..!
Sólida exibição na defesa. Porque tão importante como saber o que fazer com uma bola nos pés, é saber onde se situar quando são os outros a estar com ela.
No seio da equipa foi um jogador solidário e sempre pronto, destacando-se o sentido posicional quando era preciso sair em defesa dela.
Foi evidente que o assinalável desempenho do conjunto encarnado não teria sido aquele, se Miguel Reis não estivesse lá atrás.

Luís Coelho
Outra agradável surpresa no olímpico do Prior Velho. Como futebolista, viu-se que sabe bem o que fazer com a bola, como quem já a conhece há algum tempo..!
Bom tacticamente, mostrou que para ser jogador foi preciso ir jogando ao longo da vida.
No mundo, por exemplo, há pessoas que nascem para o surf, e há outras, suponhamos, que nascem para conduzir em pequenos espaços e “dominar” um armazém.
Só depois.. é que vêm aquelas pessoas que fazem as duas bem ao mesmo tempo, e ainda por cima, até sabem jogar futebol.

Edgar Duarte
Desde o apito inicial do árbitro que um pormenor desde logo ficou registado : o tratar a bola por tu. (alguns naquele relvado só a tratavam por você..!)
Apesar de ser de entre os elementos encarnados, o último que se juntou ao grupo, a maneira como conduziu a equipa foi a de quem já joga e já o faz há muito tempo...
Um dos melhores em campo - da equipa que viajou da Luz foi o que mais se destacou - mostrou duas características que são precisas num jogador : ser esclarecido e jogar de cabeça levantada.

Alexandre Acuña
Se tivesse continuado a crescer e depois a viver no país onde nasceu, é provável que a selecção de Hugo Chavez tivesse hoje em dia um avançado com alguma categoria..!
Digamos que poderia ser un delantero para dar que falar na Copa América..!
Com a bola nos pés faz lembrar o presidente da Venezuela: é daqueles que quer a coisa só para ele..! Mas sim, olhava-se à volta e tinhamos que reconhecer : ali há jogador.
Boa técnica com os dois pés, Acuña foi a referência no ataque e nos golos encarnados.

Joaquim Ferreira
Movimenta-se em campo como se estivesse numa oficina. Quem o viu no terreno, cedo reparou que da mesma forma que o interior de uma evaporadora não o incomoda, dentro das quatro linhas também se move como quer.
Jogador operário, trabalhou quando foi preciso ajudar atrás, e correu lá na frente quando a ideia era atacar.
 

Joaquim ajudou-nos a perceber porque é que os treinadores dizem que em todas as equipas deve haver jogadores assim.

Paulo Nunes
Dias antes de ter chegado da Invicta, já era tema de conversa nos bares do Prior Velho, queriam saber por que equipa iria actuar. O coração dele só tem uma cor (azul-e-branco..), por isso, de que lado haveria então de jogar?
(apesar de ser tripeiro, diziam-me que era craque….)
Duas partidas - numa e depois noutra equipa – o principal destaque vai para aquilo que mostrou em ambas : rendimento de alto nível. Por outras palavras : foi a prova de porque é que há uns que jogam futebol, e depois há outros que só jogam à bola…
Se o F.C.Porto tem o Lucho Gonzalez, a Mitsubishi Electric tem um jogador chamado Paulo Nunes.





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Nota: Uma palavra de apreço às claques organizadas que compareceram ao jogo, que mesmo sem fotografias no decorrer da partida... deram outro colorido ao estádio..!
Lado a lado na mesma bancada, souberam dar o apoio que as equipas precisavam.
A Juventude Leonina – liderada por Cláudia Costa, e os NoName Boys – comandados por Rui Bandeira, deram uma lição de fair-play que ficará registada na história.


Nuno Matos Ribeiro
28.04.2009

(crónica publicada no Sportugal.pt.  set.2006)


Foi um prazer, André

Por norma não se dão os parabéns a quem perde um jogo ou abandona um torneio. Mas no caso de André, a história é diferente. Porque ele merece-os. Ao ser derrotado no Open do país que o viu nascer, Agassi abandonou definitavemte os courts - ponto final numa carreira ímpar de 21 anos.

Num percurso de notável longevidade, que se prolongou durante três décadas, André Agassi nem sempre foi aquele exemplo que os mais novos reconhecem nele hoje. Porque da sua infância rebelde, várias histórias ficaram.


Um dos primeiros treinadores que teve, quando, aos 13 anos, chegou à Academia de Ténis Nick Bolletieri, na Florida, recorda-o: “Nunca tinha encontrado um miúdo como o André. Parecia que as regras tinham sido inventadas para ele as quebrar; que os adultos existiam para serem testados por ele”, relembra Bolletieri. Que sublinha: “Vestia como ninguém, era uma bomba relógio ambulante, extremamente sensível e que transpirava carisma”.

De facto, no início, Agassi era desprezado pelos seus pares e adorado pelos adeptos. Numa carreira que chegou a cruzar-se com o álcool e as drogas, foi o passar dos anos que ajudou André a encontrar o trilho certo. Para trás ficaram os tempos em que o norte-americano chegou a cuspir nas calças de um árbitro (US Open 1990); a apelidar de “palhaço” o presidente da Federação Internacional de Ténis; ou a ser expulso do Torneio de Indianápolis (1996) por insultos continuados a um árbitro.



“É o jogador que mais mudou enquanto pessoa e tenista”
Foi o amadurecimento que levou André Agassi a saber aproveitar o talento e a deixar de ser um produto de marketing. Quando começou a investir no conteúdo em detrimento da forma, o norte-americano conquistou gradualmente a admiração de todos. O antigo campeão da modalidade, Mats Wilander, é disso um exemplo: “Agassi é o jogador que mais mudou enquanto pessoa e tenista; tornou-se no ser que mais respeito me merece na história da modalidade”, lê-se no Jornal do Ténis (de 2003).

Ao longo de uma carreira de 21 anos, o norte-americano, com 36 no bilhete de identidade, naturalmente que fica na história pelo ténis que jogou. Agassi será recordado pelo elevado ritmo exibicional, pela sua poderosa direita, e a precisão da esquerda que executava a duas mãos. No currículo, vários títulos: 60 no total. Oito do Grand Slam, um Masters, uma medalha de ouro olímpica, duas Taças Davis e 101 semanas como líder do ranking mundial. Em Portugal, esteve por uma ocasião. No Masters de 2000 onde perdeu na final com Gustavo Kuerten.


André Agassi terminou a carreira no sítio certo para receber a ovação merecida. Largos minutos de palmas dos 24 mil espectadores que o foram ver a pensar que ainda não era sábado que perdia. No final, depois de derrotado pelo alemão Benjamin Becker, o norte-americano despediu-se à altura:

“O marcador indica que perdi, mas não o que eu ganhei. Durante 21 anos encontrei em vós a inspiração, a lealdade e a generosidade. Permitiram que me apoiasse nos vossos ombros para atingir os meus sonhos. Vou guardar esses momentos para o resto a minha vida”.



Obrigado, André.
O prazer foi nosso.

set.2006 
Isaías Junior a caminho de Portugal

Isaías foi um dos jogadores que mais marcou os adeptos benfiquistas no início dos anos 90. Ao lado de compatriotas como Ricardo Gomes, Mozer ou Valdo, o “pontapé canhão” contratado ao Boavista depressa conquistou o seu espaço no emblema da águia. Retirado do futebol, hoje com 43 anos, Isaías dedica-se ao que um dia sonhou quando começou a jogar futebol.


Em Cabo Frio – terra natal – o antigo jogador do Benfica ensina actualmente 150 jovens a aprender aquilo que mais gostava de fazer. Criou a Escolinha 1.º de Dezembro, e ainda lhe junta o prazer de ali poder ensinar os dois filhos. A caminho dos 16 anos, Isaías Júnior cresce como jogador, muito provavelmente a caminho de Portugal…


Quando jogava no Benfica, já tinha em mente a criação de uma escola de futebol? Quando surgiu esta ideia?
- Desde sempre. Desde o início da minha carreira, ainda aqui no Brasil, que tinha a vontade de criar uma escolinha. Quando fui para Portugal, para representar o Rio Ave, já levava essa ideia comigo.
Sente-se realizado a ensinar os mais novos a fazer aquilo que mais gostava de fazer?
- Claro que sim. Tenho muito prazer em ensinar estes 150 jovens a crescer como homens e futebolistas. Sinto-me gratificado porque sabia que mais tarde ou mais cedo havia de estar a trabalhar com crianças.

O Brasil é uma fonte quase inesgotável de futuros talentos no futebol. Podemos esperar algum craque a sair da Escolinha 1.º de Dezembro?

- Creio que sim (risos). A minha intenção é a de formar estas crianças como pessoas e atletas, de forma a poderem um dia vir a ter uma carreira de jogador profissional. Na sua maioria são jovens entre os 10 e os 18 anos, é preciso dar tempo. Actualmente há dois jovens que estão em Portugal e que passaram por esta escola. O Alessandro que é atacante e joga no Estoril-Praia, e o Rodrigo, defesa central que está no Vizela.

Os seus filhos estão a crescer e a aprender na sua escola de futebol. Acredita que ambos podem vingar na modalidade e vir a ter uma carreira como a do pai?
- Gostava que sim. Contudo, eles é que vão decidir o futuro das suas vidas. Mas uma coisa é certa, tenho muito orgulho em poder estar a ensinar-lhes a jogar futebol.

O Lucas tem 10 anos e o Isaías Júnior tem 15. Vê nalgum deles características semelhantes às que o Isaías mostrou quando jogava em Portugal?
- Ainda são novos, é difícil dizer. Acho que o Lucas, apesar da idade, é aquele que poderá vir a parecer-se mais comigo. Gosta de jogar na frente e já mostra um remate forte. A fazer lembrar o “pontapé-canhão” como era conhecido em Portugal! (risos). O Isaías Júnior joga a trinco, é uma posição diferente, mas também chuta bem!

O seu filho mais velho, o Isaías Júnior, gostava que ele viesse para Portugal e atingisse o reconhecimento alcançado pelo pai?
- Gostava e ele próprio também quer ir. O Isaías Júnior nasceu em Portugal, na altura daquele famoso jogo contra o Arsenal. Cresceu aí e sabe que o pai foi muito feliz em Portugal e no Benfica. Logo, é normal que também pense em fazer carreira no país.
E acha que já está em condições de poder dar o salto? Onde gostava de o ver o jogar… no Benfica?
- Por enquanto Isaías Júnior está ainda um pouco “verde”. Precisa de amadurecer um pouco mais como jogador. Apesar de ele gostar do Benfica devido ao pai lá ter jogado, não significa que pense apenas em vê-lo no meu antigo clube.

Dito dessa forma, não se importava de o ver jogar no FC Porto ou no Sporting…
- O futuro é dele, ele é que decide. Eu só desejo o melhor para o Isaías Júnior e não quero contrariá-lo. E porque não ir para a Academia do Sporting, por exemplo? Todos reconhecem, é uma grande escola. No meu tempo, lembro-me do filho do meu antigo colega no Benfica, o Veloso, brincar connosco no balneário, e hoje está a jogar no Sporting… O futebol é assim mesmo. Costumo dizer ao meu filho: Carregas o meu nome no teu, se conseguires metade do que eu consegui no futebol já ficarei feliz contigo! (risos).

Já estabeleceu contactos de forma a que Isaías Júnior se mude para Portugal? Quando poderemos esperar isso?
- É um facto que ele pode vir a jogar em Portugal. Neste momento, a minha ideia é ir passar o fim-de-ano ao país e reencontrar alguns amigos. Se o fizer, já irei com tudo direccionado para falar com as pessoas certas e tratar do futuro dele.


Isaías Júnior completa 16 anos no dia 17 de Dezembro. É óbvio que se trata de um jogador ainda jovem para a curto prazo o vermos num relvado e recordar o nome do pai. À semelhança do que se passa lá fora – com os grandes clubes europeus a apostarem em jogadores cada vez mais jovens – também em Portugal há quem aposte na mesma política. Como são os exemplos do australiano Kaz Patafta, no Benfica, ou do brasileiro Yannick Pupo, no Sporting.

O jovem que se segue poderá então chamar-se Isaías. Apesar do apelido Júnior, quem sabe se não poderemos estar perto de ver nos relvados portugueses, 15 anos depois, um dos nomes mais marcantes do início da década de 90.



nome: Isaías
para os amigos: “pontapé-canhão”

Foi há mais de uma década que Isaías espalhou o seu futebol com a camisola encarnada. E desde então, apesar do plantel benfiquista contar quase sempre com um ou mais jogadores brasileiros, poucos conquistaram o coração dos adeptos como Isaías o conquistou. Uma explicação que não se deve a nenhum segredo em especial, mas sim fruto do empenho no dia-a-dia.

“No meu tempo, ainda os treinos eram ao lado do antigo Estádio da Luz, eu ficava lá depois da sessão acabar. Ficava lá a rematar, de longe e várias vezes, sempre a tentar até a bola sair como eu queria “
, recorda o antigo jogador benfiquista.

“Havia sempre muitos simpatizantes do clube que estavam ali a assistir aos treinos, e que depois ficavam lá quando o treino acabava. Ficavam ali a ver-me tentar os remates de longe, ao mesmo tempo que eu os ouvia a incentivar”
, acrescenta Isaías.

“Havia um carinho especial. A história do pontapé canhão também vem daí. Gostava de treinar os remates, e por isso é que nos jogos, de vez em quando, conseguia marcar aqueles golos”, relembra.

Entre vários, dois momentos da carreira de Isaías ficarão para sempre guardados na lembrança da nação benfiquista:

Um deles a memorável noite de Highbury Park, Londres, silenciando o Arsenal com uma magnífica exibição e dois golos. Decorria a época 1991/92 e o Benfica eliminava o campeão inglês da Taça dos Campeões Europeus.
Autor de dois golos, Isaías ficará também ligado à história do 6-3, resultado com que o Benfica surpreendeu Alvalade, em Maio de 1994.

 out.2006